Falar de setembro amarelo sem hipocrisia
Hoje, como psicóloga, tenho muito mais cuidado ao escrever sobre o Setembro Amarelo. Uma campanha que começou como “prevenção ao suicídio” e se tornou o mês de “valorização da vida”, tem muita relevância, mas também se tornou palco de ações vazias, “só pra constar”.
Acredito que precisamos investir na sensibilização sobre a importância da saúde mental o ano inteiro e, mais que isso, garantir políticas públicas que incentivem e, de fato, ajudem as pessoas em seu cuidado com essa área da vida.
As empresas privadas precisam também rever seu ambiente laboral. Isso é muito mais efetivo que distribuir fitinhas amarelas e bombons Garoto para seus colaboradores. O ambiente precisa ser respeitoso, livre de sobrecarga, com condições de trabalho dignas e valorização real de cada pessoa que ali está. Ver a pessoa como pessoa, e não como máquina de entregar resultados.
As escolas precisam ser acolhedoras nas individualidades e diferenças, banir os diversos tipos de discriminação e violências. Precisam lembrar que os alunos estão em formação de caráter e valores, e que tudo o que acontece na escola impacta positiva ou negativamente.
As famílias precisam voltar a se interessar pelas pessoas que a compõem. Passar mais tempo de qualidade juntos, enxergar para além de olhar, conviver para além de dividir o teto. Resgatar o que se perdeu e construir um legado de amor, verdadeiro amor.
As redes sociais precisam ser regulamentadas para que não sejam palco de ódio, violência e ofensas. Ao fim das contas, parece que é “terra sem lei” — porque talvez seja mesmo. Precisamos entender que as redes estão lá para entretenimento, compartilhamento do cotidiano e não para serem vitrines de comparação.
Por fim, cada um precisa entender o valor que a vida tem através da (re)conexão com seu sentido próprio de valor. É mais que autoestima, mais que ter um propósito na vida: é conhecer tudo isso e a si mesmo, como fonte inesgotável de algo bom, seja lá o que for.
Dia desses li sobre o influenciador Felca que, quando mais novo, inundado de depressão, achava que sua vida não tinha valor. E veja hoje o grande serviço que ele fez à humanidade. Certamente, ele nunca imaginou que poderia fazê-lo.
E é isso que sempre digo a uma pessoa que não deseja mais viver: que certamente há algo dentro dela que pode ser de grande valia para a humanidade e que, através disso, seu senso de valor próprio será impactado por tamanha satisfação pessoal, mesmo que ela ainda não saiba o que é. Não precisa ser nada grandioso e mundial. Pode ser ajudar alguém todos os dias, levar alegria, cuidar, melhorar, servir.
Quando a gente resgatar o sentido de ser HUMANIDADE, as campanhas terão mais sentido, serão verdadeiras e constantes. Não apenas em um mês.