Talvez seja uma pergunta bem filosófica, um tanto complexa de responder, mas aqui vai uma reflexão sobre ela. Mais que isso, aqui vai um incômodo que volta e meia aparece.
Quando aprendemos a tratar o outro com indiferença pra expressar o que estamos sentindo? Parece surreal, mas ser indiferente pode ser usado para diversos fins. Quando não se quer mais falar com alguém: tome-lhe indiferença. Quando se está chateado: tome-lhe indiferença. Quando se quer conquistar alguém: tome-lhe indiferença. Se, pelo contrário não tem mais interesse: tome-lhe indiferença. Não gostou de alguma atitude do outro? Mais indiferença.
Fico me perguntando onde começou, onde aprendemos, porque é inquietante pensar que com tantas palavras no vocabulário, com tantos meios de comunicação, com tantas formas de se expressar, ainda usamos esse recurso.
A indiferença tem servido pra muitas coisas e muitas vezes ela está escondida na desculpa da “correria”, dos muitos compromissos, na liberdade almejada, mas na verdade pode ser apenas desinteresse pelo outro mesmo, em diversos níveis e tipos de relações.
Ok, de tudo nos é permitido sentir, mas como temos agido diante do que sentimos? E como agimos com o que o outro sente? Dia desses disse a uma paciente: “cuidado com seus acordos” e tomei aquilo pra mim. Agora te dou um bocado disto também.
Quais acordos relacionais estamos fazendo? Ou não fazemos? Simplesmente a vida segue e a indiferença se instala?
Ferimos quando deixamos o outro sem entender o que quebrou uma relação. Ferimos quando não dizemos a verdade, mesmo que doída, porque sempre tem um jeito de falar. Ferimos a nós quando não nos posicionamos com o indiferente, porque até feridos, temos que ser indiferentes à indiferença do outro, pra parecermos fortes.
Sonho com o dia em que possamos ser verdadeiros com o que sentimos, que saibamos também ouvir a verdade vinda de lá pra cá e que não seja preciso agir com indiferença pra sinalizar seja lá o que for.